Agência ZeroUm10 de mai. de 20203 min de leituraRio agoniza à beira do colapsoAtualizado: 21 de mai. de 2020Profissionais de saúde relatam a tensão do dia a dia nas emergências do estado.Paramédico | Hospital. Foto: Wix Media.O COVID-19 é um desafio para muitos governantes, para a estrutura mundial de saúde e suas formas de organização. É sabido que saúde é um direito de todos no Brasil, apesar da falta de garantias nas últimas décadas - por conta da precarização da gestão e de processos, não é direito adquirido no mundo. Nos EUA, por exemplo, existe um modelo que é considerado semelhante ao que antecedeu o SUS no Brasil.O Rio de Janeiro, por sua vez, mergulhado em uma crise econômica colhe os frutos da má gestão de anos. E não é somente a respeito da falta de insumos, de leitos e de estrutura que vem afetando o combate à Pandemia. Há falta de funcionários devido ao mau dimensionamento da capacidade de atendimento projetada e, também, em decorrência de alguns afastamentos por terem contraído a doença.A Agência ZeroUm esteve em contato com diversos profissionais que atuam na área da saúde durante a construção desta reportagem. A maioria preferiu não se identificar por medo de represálias. Os agentes de saúde informam que há escassez de leitos inclusive na rede privada. Toda a estrutura do estado, região metropolitana e interior parecem inadequadas. E as prioridades também. Visando colaborar com as autoridades de saúde, o Botafogo F.R. disponibilizou as instalações já prontas de seu estádio, Zona Norte da Cidade do Rio, para atendimento aos pacientes do Novo Coronavírus. Contudo, uma parceria firmada entre autoridades e um consórcio de hospitais privados decidiu construir um Hospital de Campanha no Leblon, Zona Sul da Cidade. Justamente a região que concentra boa parte da oferta de leitos na saúde privada e tem uma rede pública menos sucateada.Um hospital de campanha em um local com maior concentração pessoas, com boa parte da estrutura já disponível não seria o ideal em vez de custos com novas instalações?Nos últimos dias, foi divulgado que dois novos Hospitais de Campanha devem ser erguidos. Um no Rio Centro, Zona Oeste. Outro no Célio de Barros, no Complexo do Maracanã, Zona Norte. Contudo, todos com necessidade de investimento em infraestrutura. E sem condições técnicas de atender a necessidade pois os respiradores não foram entregues. O Ministério Público Estadual e o Tribunal de Contas do Estado investigam o caso.Dentro da estrutura existente, há falta de setores adequados para o atendimento dos pacientes. Este fato, agrava o fator de risco dos dois mundos da saúde, a pública e a privada, potencializando as possibilidades de transmissão do vírus. A estrutura ineficiente também afeta aqueles pacientes que não necessitam de internação, mas estão infectados. Estes passam a cumprir quarentena em casa, geralmente distante das condições ideais.Dentro deste cenário caótico existe ainda o problema da subnotificação. Não há testes disponibilizados em número suficiente que permitam entender a realidade da pandemia que estamos enfrentando. Pode-se observar que o número percentual de pessoas com a causa da morte descrita como 'Síndrome Respiratória Aguda' aumentou consideravelmente. Sobretudo pela carência do diagnóstico necessário. Os números oficiais divulgados carecem de dados que traduzam em verdade os fatos apresentados. É preciso, para além de uma comunicação coordenada, uma ação de Estado coordenada. Marcelo Duarte, 36, Técnico em Enfermagem trabalha em emergências e relata que:"Nós, profissionais da saúde, que estamos na linha de frente, temos a total ciência que o número de casos de Covid 19 são bem maiores do que as estatísticas mostram". As autoridades não possuem conhecimento real do problema. Por vezes, demonstram falta de interesse político-institucional. Aliado a isso, o conflito nos diferentes níveis de governo dão o tom da falta de sintonia e do interesse real no combate. As informações a respeito dos cuidados básicos deveriam ser divulgadas e incentivadas. Mas são negligenciadas ou minimizadas. Expondo cada vez mais pessoas a um comportamento inadequado.Foto - Arquivo Pessoal de Marcelo Duarte.No que diz respeito aos cuidados que se deve tomar no dia a dia, Marcelo ressalta a importância de que sejam fornecidas condições mínimas para que as equipes de saúde possam trabalhar."Não devemos aceitar trabalhar em local insalubre, sem os equipamentos de proteção individual adequados".Os equipamentos são importantes para tanto os profissionais, como para os pacientes na garantia do bloqueio à transmissão frente à necessidade do contato entre as partes. Marcelo ressalta, ainda, que não há treinamento adequado de como e quando utilizar os equipamentos de proteção sem riscos de contaminação. Em outros pontos do Estado, profissionais relatam as dificuldades de se trabalhar na área de saúde durante a pandemia. São emergências lotadas, falta de respiradores, de leitos, escalas de plantão que beiram à exaustão e a incerteza de estar imune a cada dia. O Rio agoniza à beira do colapso.Bruno VelascoAgência ZeroUm
Profissionais de saúde relatam a tensão do dia a dia nas emergências do estado.Paramédico | Hospital. Foto: Wix Media.O COVID-19 é um desafio para muitos governantes, para a estrutura mundial de saúde e suas formas de organização. É sabido que saúde é um direito de todos no Brasil, apesar da falta de garantias nas últimas décadas - por conta da precarização da gestão e de processos, não é direito adquirido no mundo. Nos EUA, por exemplo, existe um modelo que é considerado semelhante ao que antecedeu o SUS no Brasil.O Rio de Janeiro, por sua vez, mergulhado em uma crise econômica colhe os frutos da má gestão de anos. E não é somente a respeito da falta de insumos, de leitos e de estrutura que vem afetando o combate à Pandemia. Há falta de funcionários devido ao mau dimensionamento da capacidade de atendimento projetada e, também, em decorrência de alguns afastamentos por terem contraído a doença.A Agência ZeroUm esteve em contato com diversos profissionais que atuam na área da saúde durante a construção desta reportagem. A maioria preferiu não se identificar por medo de represálias. Os agentes de saúde informam que há escassez de leitos inclusive na rede privada. Toda a estrutura do estado, região metropolitana e interior parecem inadequadas. E as prioridades também. Visando colaborar com as autoridades de saúde, o Botafogo F.R. disponibilizou as instalações já prontas de seu estádio, Zona Norte da Cidade do Rio, para atendimento aos pacientes do Novo Coronavírus. Contudo, uma parceria firmada entre autoridades e um consórcio de hospitais privados decidiu construir um Hospital de Campanha no Leblon, Zona Sul da Cidade. Justamente a região que concentra boa parte da oferta de leitos na saúde privada e tem uma rede pública menos sucateada.Um hospital de campanha em um local com maior concentração pessoas, com boa parte da estrutura já disponível não seria o ideal em vez de custos com novas instalações?Nos últimos dias, foi divulgado que dois novos Hospitais de Campanha devem ser erguidos. Um no Rio Centro, Zona Oeste. Outro no Célio de Barros, no Complexo do Maracanã, Zona Norte. Contudo, todos com necessidade de investimento em infraestrutura. E sem condições técnicas de atender a necessidade pois os respiradores não foram entregues. O Ministério Público Estadual e o Tribunal de Contas do Estado investigam o caso.Dentro da estrutura existente, há falta de setores adequados para o atendimento dos pacientes. Este fato, agrava o fator de risco dos dois mundos da saúde, a pública e a privada, potencializando as possibilidades de transmissão do vírus. A estrutura ineficiente também afeta aqueles pacientes que não necessitam de internação, mas estão infectados. Estes passam a cumprir quarentena em casa, geralmente distante das condições ideais.Dentro deste cenário caótico existe ainda o problema da subnotificação. Não há testes disponibilizados em número suficiente que permitam entender a realidade da pandemia que estamos enfrentando. Pode-se observar que o número percentual de pessoas com a causa da morte descrita como 'Síndrome Respiratória Aguda' aumentou consideravelmente. Sobretudo pela carência do diagnóstico necessário. Os números oficiais divulgados carecem de dados que traduzam em verdade os fatos apresentados. É preciso, para além de uma comunicação coordenada, uma ação de Estado coordenada. Marcelo Duarte, 36, Técnico em Enfermagem trabalha em emergências e relata que:"Nós, profissionais da saúde, que estamos na linha de frente, temos a total ciência que o número de casos de Covid 19 são bem maiores do que as estatísticas mostram". As autoridades não possuem conhecimento real do problema. Por vezes, demonstram falta de interesse político-institucional. Aliado a isso, o conflito nos diferentes níveis de governo dão o tom da falta de sintonia e do interesse real no combate. As informações a respeito dos cuidados básicos deveriam ser divulgadas e incentivadas. Mas são negligenciadas ou minimizadas. Expondo cada vez mais pessoas a um comportamento inadequado.Foto - Arquivo Pessoal de Marcelo Duarte.No que diz respeito aos cuidados que se deve tomar no dia a dia, Marcelo ressalta a importância de que sejam fornecidas condições mínimas para que as equipes de saúde possam trabalhar."Não devemos aceitar trabalhar em local insalubre, sem os equipamentos de proteção individual adequados".Os equipamentos são importantes para tanto os profissionais, como para os pacientes na garantia do bloqueio à transmissão frente à necessidade do contato entre as partes. Marcelo ressalta, ainda, que não há treinamento adequado de como e quando utilizar os equipamentos de proteção sem riscos de contaminação. Em outros pontos do Estado, profissionais relatam as dificuldades de se trabalhar na área de saúde durante a pandemia. São emergências lotadas, falta de respiradores, de leitos, escalas de plantão que beiram à exaustão e a incerteza de estar imune a cada dia. O Rio agoniza à beira do colapso.Bruno VelascoAgência ZeroUm