Agência ZeroUm17 de jul. de 20203 min de leituraProjetos 'endeusadores'O ano de 2019 reescreveu a história do futebol brasileiro com boas doses de ousadia. Mas ainda faltam projetos que resistam inícios de campanha ruins e trabalhos duradouros.Jorge Jesus. Foto: Alexandre Brum - Agência Enquadrar.De fato, o Flamengo conquistou quase tudo o que disputou desde a chegada do português . O time da Gávea acumulou títulos, reescreveu a mitologia do futebol brasileiro. Agora, para além do time de 1981, o olimpo rubro-negro tem o de 2019. Um time que desconhecia adversários pois reconhecia em si suas qualidades. Méritos divididos, mas um nome com destaque no prestígio: Jorge Jesus.O cenário na chegada do treinador mostrava um time campeão carioca com pragmatismo. Não encantava. Sem o brilho desejado por muitos em razão da qualidade do elenco rubro-negro. E apesar da surpresa em virtude de sua contratação - um nome desconhecido no mercado nacional - seu estilo e sua agressividade fizeram o Flamengo pulsar como nunca antes. O mister se mostrou mais que um regente, talvez a peça que faltava na orquestra.O time jogou por música inúmeras vezes, perdeu poucas. Uma goleada para o Santos em 2019 quando o time já era campeão antecipado não abalou a confiança e o time levantou ainda a Taça da Libertadores pela segunda vez. No Mundial, um duro golpe na final tão sonhada contra o Liverpool. Mas os sonhos vinham se renovando para mais uma temporada no imaginário do torcedor, talvez da diretoria em virtude da renovação recente do treinador. O ano de 2020 trouxe ainda mais 2 'canecos': a Taça Guanabara e o Campeonato Carioca, mas com um fim da festa com sabor amargo, uma espécie de ressaca antecipada. O treinador que aceitou o desafio e se fez conhecer no Brasil estaria de saída. Os últimos jogos davam um tom diferente às suas participações. O inquieto Jorge Jesus parecia distante. E distante ficou.Flamengo. Foto: Marcelo Gonçalves - Agência Enquadrar.O Flamengo monitora substitutos. Apesar do elenco qualificado e do projeto diferenciado, tem pela frente novos desafios. O 'time imbatível' sofre um revés inimaginável. Seria capaz um novo treinador de manter a 'liga' criada pela mister?JJ provou do que é capaz. E deixa uma lacuna que não parece ser capaz de ser preenchida por outro técnico brasileiro. Não pela falta de qualidade, mas pela falta da personalidade, de uma personagem.O futebol carioca carece destes profissionais caricatos, curiosos e vitoriosos. Mas de certo, há um bom tempo, a imprensa também se confunde com a torcida ao noticiar fatos. Existe muita opinião envelopada em formato de informação. Com isso, há muitos 'deuses do gramado' sendo construídos em detrimento da realidade de um futebol que é profissional.Para muitos, o mais difícil seria a manutenção do elenco. Com a exceção de Pablo Marí que se transferiu para o Arsenal, o time se manteve e ganhou reforços. A troca, justamente, da comissão técnica não era pensada neste momento. Aliás, a troca de treinadores é um tema recorrente nas 'mesas redondas'. E geralmente quando um treinador opta por sair, o debate fica ainda mais acalorado.O tempo do projeto para os treinadores no Brasil é culturalmente diferente do que ocorre na Europa. A troca excessiva de treinadores tão combatida por boa parte deles é cultivada na mesma proporção. É certo e legítimo que quando novas oportunidades surjam, que as portas estejam abertas e os negócios ocorram. Em um Brasil em que projetos não duram sequer 6 meses, trocas por demissão ou oportunidades vão continuar a existir. E não devem ser questionadas.Entretanto, para o bem e amadurecimento da profissionalização do futebol, dirigentes e profissionais precisam pensar diferente. Não se pode em um ambiente profissional dispensar a expectativa na realização de um projeto somente em 1 ou 2 pessoas, sejam elas atletas ou comissão técnica. O 'endeusamento' no esporte vende camisas, aumenta a adesão a projeto de sócios torcedores, traz títulos em algumas ocasiões mas precisa estar ligado a um bem maior que é a produção do espetáculo chamado futebol.Bruno VelascoAgência ZeroUm
O ano de 2019 reescreveu a história do futebol brasileiro com boas doses de ousadia. Mas ainda faltam projetos que resistam inícios de campanha ruins e trabalhos duradouros.Jorge Jesus. Foto: Alexandre Brum - Agência Enquadrar.De fato, o Flamengo conquistou quase tudo o que disputou desde a chegada do português . O time da Gávea acumulou títulos, reescreveu a mitologia do futebol brasileiro. Agora, para além do time de 1981, o olimpo rubro-negro tem o de 2019. Um time que desconhecia adversários pois reconhecia em si suas qualidades. Méritos divididos, mas um nome com destaque no prestígio: Jorge Jesus.O cenário na chegada do treinador mostrava um time campeão carioca com pragmatismo. Não encantava. Sem o brilho desejado por muitos em razão da qualidade do elenco rubro-negro. E apesar da surpresa em virtude de sua contratação - um nome desconhecido no mercado nacional - seu estilo e sua agressividade fizeram o Flamengo pulsar como nunca antes. O mister se mostrou mais que um regente, talvez a peça que faltava na orquestra.O time jogou por música inúmeras vezes, perdeu poucas. Uma goleada para o Santos em 2019 quando o time já era campeão antecipado não abalou a confiança e o time levantou ainda a Taça da Libertadores pela segunda vez. No Mundial, um duro golpe na final tão sonhada contra o Liverpool. Mas os sonhos vinham se renovando para mais uma temporada no imaginário do torcedor, talvez da diretoria em virtude da renovação recente do treinador. O ano de 2020 trouxe ainda mais 2 'canecos': a Taça Guanabara e o Campeonato Carioca, mas com um fim da festa com sabor amargo, uma espécie de ressaca antecipada. O treinador que aceitou o desafio e se fez conhecer no Brasil estaria de saída. Os últimos jogos davam um tom diferente às suas participações. O inquieto Jorge Jesus parecia distante. E distante ficou.Flamengo. Foto: Marcelo Gonçalves - Agência Enquadrar.O Flamengo monitora substitutos. Apesar do elenco qualificado e do projeto diferenciado, tem pela frente novos desafios. O 'time imbatível' sofre um revés inimaginável. Seria capaz um novo treinador de manter a 'liga' criada pela mister?JJ provou do que é capaz. E deixa uma lacuna que não parece ser capaz de ser preenchida por outro técnico brasileiro. Não pela falta de qualidade, mas pela falta da personalidade, de uma personagem.O futebol carioca carece destes profissionais caricatos, curiosos e vitoriosos. Mas de certo, há um bom tempo, a imprensa também se confunde com a torcida ao noticiar fatos. Existe muita opinião envelopada em formato de informação. Com isso, há muitos 'deuses do gramado' sendo construídos em detrimento da realidade de um futebol que é profissional.Para muitos, o mais difícil seria a manutenção do elenco. Com a exceção de Pablo Marí que se transferiu para o Arsenal, o time se manteve e ganhou reforços. A troca, justamente, da comissão técnica não era pensada neste momento. Aliás, a troca de treinadores é um tema recorrente nas 'mesas redondas'. E geralmente quando um treinador opta por sair, o debate fica ainda mais acalorado.O tempo do projeto para os treinadores no Brasil é culturalmente diferente do que ocorre na Europa. A troca excessiva de treinadores tão combatida por boa parte deles é cultivada na mesma proporção. É certo e legítimo que quando novas oportunidades surjam, que as portas estejam abertas e os negócios ocorram. Em um Brasil em que projetos não duram sequer 6 meses, trocas por demissão ou oportunidades vão continuar a existir. E não devem ser questionadas.Entretanto, para o bem e amadurecimento da profissionalização do futebol, dirigentes e profissionais precisam pensar diferente. Não se pode em um ambiente profissional dispensar a expectativa na realização de um projeto somente em 1 ou 2 pessoas, sejam elas atletas ou comissão técnica. O 'endeusamento' no esporte vende camisas, aumenta a adesão a projeto de sócios torcedores, traz títulos em algumas ocasiões mas precisa estar ligado a um bem maior que é a produção do espetáculo chamado futebol.Bruno VelascoAgência ZeroUm